O livro “Dicas da Quinta 2 – Pedagogicamente falando”, do ICE – Instituto das Comunidades Educativas, dá a conhecer um projeto educativo diferenciador que aposta nas experiências como forma de aprendizagem, na educação ambiental e na ligação à comunidade, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Santiago do Cacém. O livro é o resultado do trabalho desenvolvido na Quinta de Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André, no Monte do Paio, com os alunos das escolas do Município, e foi apresentado, dia 20 de novembro, na Biblioteca Municipal Manuel José “do Tojal”, em Vila Nova de Santo André.
A Vereadora da Educação, Sónia Gonçalves, sublinhou que as aprendizagens desenvolvidas com os alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico, através do projeto da Quinta de Educação e Ambiente, “está muito focado na educação ambiental e na proximidade à comunidade local. Participar nas atividades desenvolvidas no Monte do Paio, como aprender a fazer pão ou a tratar da horta e depois levar esses ensinamentos para a sala de aula, torna ainda mais significativas essas aprendizagens e a escola enriquecedora.” A autarca destacou, também, que “este livro é um excelente guião de trabalho para professores e educadores”.
A professora Isabel Pereira, coordenadora do projeto, explicou que o livro “Dicas da Quinta 1” foi “feito pelas crianças com alguns recados aos adultos, já o segundo volume destina-se a professores e pais.” A elaboração dos dois livros surgiu porque “sentimos a necessidade de fazer um historial deste projeto que nasceu no ano 2000”. No livro “Dicas da Quinta 2” encontra-se informação sobre o modo como este projeto funciona, as atividades que se desenvolvem nas aulas de campo, os percursos pedestres e o que neles é explorado, a documentação de apoio que é fornecida aos professores, as fichas de registo. Tem um capítulo dedicado ao método experimental e experimentação, “que é um dos aspetos que nós privilegiamos no projeto”, e uma mostra das atividades em sala de aula após a realização do trabalho de campo.
Isabel Pereira sublinhou que este segundo volume se destina aos professores, porque “senti que devia uma explicação do projeto a todos aqueles que o têm desenvolvido ao longo destes anos, mas também, pretendo que seja um documento de apresentação e reflexão para os colegas que tomam contacto com ele pela primeira vez”.
O livro pretende, ainda, mostrar como “a interdisciplinaridade, a flexibilização curricular e a aquisição de competências são práticas neste nível de ensino”. Isabel Pereira salientou que a questão das competências “é a que mais desenvolvemos no projeto, porque muitas vezes não estamos preocupados se a matéria que estamos a abordar faz ou não parte do currículo do 1.º Ciclo, uma vez que o nosso objetivo era, e é, que os nossos alunos adquirissem determinadas competências.”
O outro público são os pais, “porque é muito importante nós darmos a conhecer o que fazemos. As crianças quando visitam o Monte do Paio, entre o passear e o brincar, experienciam muitas outras coisas, e há que perceber que esta é uma forma diferente de aprendizagem.”
A abordagem do Professor Dr. Fernando Ilídio, da Universidade do Minho, convidado para a sessão de apresentação do livro, foi no sentido de colocar a criança no centro do processo educacional. “O que acho mais extraordinário na educação é a oportunidade de as crianças terem autoria no que escrevem, falam, desenham e pintam, mas a escola não tem sido propícia à autoria das crianças.” Acrescentando que “também não tem sido promotora, e digo mesmo defensora, dos direitos da criança. Porque elas são cada vez mais pressionadas por exigências, que não são dos professores, mas externas à escola de políticas públicas nacionais e internacionais que, implícita ou explicitamente, as colocam umas contra as outras. Porque está criada uma cultura do individualismo competitivo, e quando falamos, por exemplo, em salvar o nosso planeta não será por esse caminho.”
Para o catedrático este livro “mostra-nos um esforço de construção curricular e pedagógica coletiva que envolve crianças e adultos. E nesta perspetiva cria-se um sentido de contribuir para o bem comum, que é uma ideia muito fragilizada nos nossos dias. Este tipo de trabalho que se realiza nas escolas é fundamental na promoção de uma educação como prática de liberdade, porque não é possível exercer o pensamento crítico se não for em liberdade”, concluiu Fernando Ilídio.
O projeto da Quinta de Educação e Ambiente da Lagoa de Santo André é um território Educativo onde que se entrecruzam aprendizagens formais e informais, funcionando como um espaço de trabalho e de reconhecimento das potencialidades da Natureza e da vida rural que se oferece a crianças e jovens do Município.